segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Era pra ser só um noivado



Em 1982 (ou 1983?), meus pais tiveram a fantástica ideia de ficarem noivos com todos os rituais possíveis de uma família do interior. Minha mãe ainda morava na escondida Divino das Laranjeiras, próxima a Governador Valadares, meu pai em Belo Horizonte.

Claro, a família do lado paterno foi em bando para a cidade da família materna, com toda a cortesia, foram recebidos e hospedados. Só não sabiam que seria cortesia demais. E se tratando de Minas Gerais, a cachaça, tinha sim senhor e os efeitos dela também.

Meu pai, com toda responsabilidade de ser o genro e o filho a se casar, ficou ali como o futuro marido que toda mulher espera. Isto não se aplicava aos seus irmãos, convidados, futuros cunhados que só esperavam o momento da rolha estourar.

Depois da festa e das alianças, o caminho normal de um fim de festa é a cama. Mas como quem bebe muito a bexiga acusa, um desses tios precisava de um banheiro. Nada demais, a não ser pelo fato da localização. Meu tio que ainda guardava os efeitos daquilo que tinha ingerido, se enganou por um segundo e entrou no quarto dos meus avós (pais da minha mãe).

É! Realmente a porta de um guarda roupa é bem parecida com a porta de um banheiro e travesseiros e cobertores são idênticos a um vaso sanitário (e como será que ele não sentiu falta do barulhinho na água, na hora que começou a aliviar?).

E porque, porque ele confundiu a cama da minha vó com a cama dele, e porque ele pensou que minha vó era a esposa dele e como depois de abraçar, enroscar as pernas nela, ele não viu, deitadinho do seu lado, quem? O meu avô!

Meu pai foi acordado, meu tio retirado (até hoje não acredita nas coisas que fez) e o casamento aconteceu. Nada como um belo cartão de visitas para testar uma família inteira.

O que tem que ser, é, mesmo com cobertas urinadas!

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Lê pra mim



13h30, sem almoço, dois telefones, 15 e-mails a responder, celular tocando, uma pessoa em minha frente esperando sua vez de falar.

No compasso de quem só pensa no que vai comer, fui dispensando um por um, até que no meio desse processo, na hora que já pensava só no quilo do prato, aparece mais uma pessoa. Em frente ao meu trabalho existe um estacionamento de motos (desses de rua), onde sempre existe alguém para vigiá-las (o famoso flanelinha).

Como alguém que acaba de sair da rua e sem regular o volume da voz, para na minha frente e berra.
- Olha pra mim aqui!
- Calma Neto (o flanelinha), tô cheio de coisa.
- É rápido menino
- Que que é?
- O celular aqui
(Penso na hora, deve ser pra destravar, configurar, sei lá)

Quando olho tudo bonitinho, nada de diferente, só uma mensagem nova.
- Porra Neto, só é uma mensagem.
- Eu sei, sô
- Então
- Uai, lê aqui pra mim.
- Merda Neto, tá fazendo hora comigo, vou almoçar, lê aí, sabe ler não?
(Pausa)
- Sei não.
(Dois tapas de cada lado na minha cara, um sujeito que eu via todo dia, dizia oi, dava café, fazia as contas das moedas, velho de guerra e não sabia ler).
- Se eu soubesse não ia te pedir (risos)
(e outro tapa na cara).

Já meio sem graça, peguei o aparelho e fiz questão de ler todas as 14 mensagens não lidas.
- Neto, é o seguinte essa diz, "Você recebeu ligações", a outra "Você recebeu ligações" e as outras 12 também dizem "você recebeu ligações".
- Poxa peguei uma mulher ontem no forró, ela falou que ia mandar mensagem.
- É, ainda não chegou.
- Valeu então, André.

(P.S: Horas depois a tal mensagem chegou, o encontro foi marcado).

Todos felizes, exceto pelo fato de problemas como este, não digo analfabeto funcional, falo analfabetismo mesmo, estarem ali. Na nossa porta. 

Cuidado com as respostas, mesmo na hora da fome.

domingo, 13 de novembro de 2011

Para quando o Valentin aprender a ler



Pra quem não sabe, um grande casal de amigos está há duas semanas de receberem o Valentin, o primeiro filho deles. Abaixo é uma carta pra daqui há alguns anos, se ele quiser.

Belo Horizonte, 13 de novembro de 2011

E aí rapaz? Tudo bem? Na verdade nem posso garantir que me conheça. Talvez eu seja esse cara chato que está toda semana na sua casa, que você anda cansado de ver. Como posso ter mudado, trabalhar em outra cidade, ou morto, não sei. Caso contrário, saiba que sou o André, um grande amigo dos seus "velhos", amigo de escola do seu pai, tipo você com seus colegas de colégio.

Primeiro. Já lavou o rosto e escovou os dentes, Valentin? Você não vai querer sua mãe gritando pela quarta vez a mesma coisa, vai? Então corre lá. Talvez você não entenda nada do que eu vou escrever agora, pode guardar pra mais tarde se quiser.

Você pode estar com sete, dez ou vinte anos agora. Mas já pensou no que vai ser quando crescer, Valentin? Perto dos dez anos eu queria ser praticamente tudo, mas o que mais queria mesmo era ser arqueólogo. Sabe esses caras que ficam caçando o que praticamente não existe mais, coisas antigas e ficam em buracos cavando qualquer terrinha, pois é.

Na época em que tinha que escolher alguma coisa não tinha arqueologia. De vez enquanto sinto muita falta de não ter feito isso, hoje faço um monte de viagem biruta, ás vezes pra suprir o que eu queria ser quando crescesse. Mas adoro o que eu faço hoje, tipo escrever isso pra você. Mas se já sabe o que quer ser, astronauta, jogador de futebol ou cientista. SEJA! Dá seu jeito!

Algumas pessoas vão ficar próximas, outras infelizmente vão te desapontar. Você pode estar no primário ou na faculdade. Você vai se apaixonar garoto. Vai esconder da sua mãe, talvez fale com seu pai, mas certamente vai dizer ao seu melhor amigo. Mas essa paixão também vai acabar, o mundo vai acabar, mas a gente sabe que o mundo demora muito pra acabar de verdade (obs: isso pode acontecer mais de uma vez, ou não).

E o mais importante, acredita que muita gente tem medo ter filhos? A maioria acha um absurdo colocar mais uma pessoa num mundo caótico como o nosso, acham que as coisas não tem jeito, desistem no menor esforço.

Mas Valentin, pouco antes de você nascer, seus pais e quase todos os amigos deles pensavam diferente. Queriam outro mundo, claro. Mas não tinham medo, precisavam de algo novo pra ontem. E seus pais não tiveram opção, tinha que ser melhor agora, porque aquele mundo que era nosso, é seu também.

Então não se assuste, mas melhorá-lo agora é seu trabalho também. Os esforços dos seus pais não são apenas pra te agradar, mas para que você seja capaz de fazer o que a gente tenta todo dia. Transformar! Acho que não estamos fazendo um bom trabalho, mas confiamos em você. Ajuda a gente?

(Valentin também pode ser Leonardo, Bruno, Bernardo, João, Claudia, Letícia, Ana ou o nome que você quiser)

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A água do Homem Americano


Há muito tempo, um amigo pediu que eu fizesse uma letra baseada no vídeo abaixo. Revirando alguns arquivos encontrei o texto. Vai o vídeo, vai a letra.




A água do homem americano


O sol brilhava onde tudo começou, seria mágoa?
Entre os rios tigres e Eufrates
Meninos corriam atrás de água

Água pra beber, pra molhar a terra
Terra que resseca
Que é marcada pelos pés e pelas mãos
Que marca as rodas do tanque, do caminhão

Corre menino, corre moleque
Aventura-se e se atreve
Corra e faça os planos
Da água do homem americano

O homem americano que veio te salvar
Que veio te libertar e veio te humilhar
Eu só quero um gole d água
O resto deixa pra lá, o resto deixa pra cá

Os tiros não tiram esses tanques daqui
As bombas não tiram esses homens daqui
Mas meninos correndo sim
Meninos tirem esses homens daqui

terça-feira, 8 de novembro de 2011

(re)Ativando


Quase quatro meses. Sim, muitas coisas aconteceram. Mas vamos como se nunca tivesse deixado esse plano de  lado. Nada demais, não vou falar da USP, tampouco do quase rebaixamento do Cruzeiro.

No mês passado resolvi visitar uns amigos no Paraná. Estava literalmente entrando em uma arapuca (calma, arapuca é o nome da republica de um amigo, de Maringá). As vezes é necessário apenas se deixar levar. Há alguns anos, estudantes de psicologia estavam em Belo Horizonte, perdidos. Como bons mineiros eu e um amigo atendemos, indicamos e acompanhamos este grupo durante dois dias pela terra do pão de queijo.

Depois disso a facilidade do contato de todas as redes sociais ajudaram que as falas não fossem perdidas. Por essas ocasiões que quase ninguém consegue explicar, um grande amigo daqui foi se aventurar nas terras de lá, abaixo do trópico de capricórnio. Talvez fosse o estímulo que faltava.

Não hesitei, de repente pousava no aeroporto de Maringá, pessoas que praticamente não vi, mas que de início (depois confirmado) a afinidade deixava a distância pra lá. Não vou relatar fato por fato. Mas a semana, sim, pra lá de agradável. Maringá e Cascavel se estendeu a Foz, Puerto Iguazu-ARG e Ciudad del este-PAR.

Voltei repaginado como na música de Bituca "aquele homem que eu era voltou". As vezes é preciso se perder um pouco pra se encontrar. Mas o mais certo, é preciso tentar, se dispor, querer, vivenciar. As coisas podem acontecer em qualquer lugar, há qualquer momento, como amizades que se mantém a distância ou amizades que começam assim, apenas com uma informação, a rua é logo ali. Mas o logo ali é sempre, sempre de mineiro.

Lembrei de todos os amigos que consegui ao longo da curtíssima vida que tenho, mas é certo. Amizade de fato é uma forma superior de amor.