quarta-feira, 28 de março de 2012

Quem apaga a luz?

 


Um genocídio na sexta-feira, a morte de mais de 200 personagens, que felizmente não serão levados pelas cinzas. Provavelmente o maior humorista do Brasil disse seu adeus, Chico Anysio foi assim, pra sempre em Maranguape.

Hoje, a quarta-feira se nublou novamente. Aquele que provavelmente poderia escrever sobre o genocídio de sexta, pois tanto cutucou sobre as várias mortes que por aqui passaram durante as décadas de sessenta e setenta, também resolveu fazer as malas e ir-se.

Fernandes que deveria conter um "Milton" como composição de nome virou "Millôr". Melhor, Milton Fernandes há aos tantos nas listas telefônicas, Millôr não.

O último apague a luz. Já sabemos que não será Chico, nem Millôr. É... Esse apagar de luzes não tem graça nenhuma!

terça-feira, 27 de março de 2012

Terça-feira de Carnaval

Foto: Bruno Senna
Corpo: Paloma Parentoni


Se corre pro muro ou precipicio
Se perde o barco a vela, o avião
Contando a história do meio pro inicio
Segura o corpo todo ou pela mão

O bloco que sai inteiro pela rua
O tambor no compasso do coração
O suor que na pele fica, gruda
Gruda os pés todos pelo chão

Depois o corpo vai se penteando
Antes da quarta-feira chegar
O que você me pede caminhando
A gente faz quando parar

Antes da terça não há promessa
Depois dela não há perdão
Tudo que a gente não confessa
Fica no talvez, sem sim ou não

Entrar e pegar o compasso de novo
O que há nela, há em mim
Há em mim e em todo o povo
Só um desejo longe de fim

domingo, 25 de março de 2012

A maneira mais rápida de se chegar a Itália



Siga pela Av.Antônio Carlos, vire a direita quando sentir cheiros conhecidos mas ainda não identificados. O caminho pode ser outro também, saia da Universidade Federal e atravesse a rua.

A casa está ali, muros vermelhos, portão branco e cinco campainhas (na verdade só uma funciona, então bata em todas até achar aquela que faz barulho). Siga uma rampa abaixo, suba a escadaria, passe pela porta de correr e pronto. Bem-vindo a Itália.

Em um canto, a massa apanha, é esticada, aberta e escondido o molho aquece. Tudo feito na hora e estritamente caseiro. O cardápio é escolhido um dia antes. A nossa espera no "Leccati i Baffi" estavam as entradas, pratos principais e sobremesa.

Zucchine Fritte (Abobrinha frita) e Bruschetta abrem o apetite, enquanto o Tagliatelle al Ragú Bolognese e Tagliatelle alla Vegetariana (macarrão com gorgonzola e nozes) aguardavam a vez de tomar seu lugar . Sim, todos se surpreendem, comida italiana caseira e barata.

Já sem esperar muito mais, surge em nossa frente um Tiramisù (bolo de queijo mascarpone, ovo, bolachas e café) e cremes de morango e chocolate. Havia a sobremesa, ah, a sobremesa. Vinhos chilenos acompanham a noite.

Esse achado está em uma casa na rua Aureliano Lessa, 217, próximo a Federal. Se você não pode pegar um avião até a Itália, vá caminhando. O "Leccati i Baffi" te espera. É de lamber os bigodes, ou melhor é de lamber os beiços.

Facebook - Leccati i Baffi

quinta-feira, 15 de março de 2012

Vinte e seis, uma semana antes do outono



São as águas de março fechando o verão ou trazendo o outono. Uma semana antes da mudança de estações, minha mãe resolveu que era momento de me expelir e me fazer chorar no mundo aqui fora. E já se vão 26 anos do primeiro choramingo.

Se há muito tempo pela frente não sei. Mas já dá pra agradecer algumas coisas, confessar que ando tentando viver.

- São quatro regiões brasileiras pisadas
- Sete países percorridos (percorridos de fato)
- Um trem pra praia outro trem pro nada.
- Dois oceanos
- Algumas ilhas
- Abaixo d´agua (tá certo bem pouquinho), e cinco mil metros pra cima
- Dois desertos, um de sal, um totalmente seco
- Uma final de libertadores vencida, outra não
- Um Rolling Stone, um Beatle, um Manu Chao e um Dylan por vir
- Dormir em lençóis com milhares de linhas, dormir em cama sem colchão
- Noites bem dormidas, não dormidas e não dormidas por opção.
+ 40ºC, - 10ºC
- Encontrar Fernando Sabino vivo e Neruda, mesmo que morto
- Cinco copas do mundo, duas vencidas
- Três temporadas com Senna
- Estudar no Instituto de Educação
- Brigar com meu pai, abraçar meu pai
- Preocupar minha mãe, abraçar minha mãe
- Preocupar-me com meu irmão, abraçar meu irmão
- Apaixonar, desapaixonar, reapaixonar
- Apertar a mão de 36 terras estrangeiras
- Conhecer todos vocês e um sem número de coisas que não vou conseguir listar (que bom isso) então eu paro aqui.

E sim, tem muita coisa que quero, que preciso por necessidade ou que quero só por orgulho. Mas se der pra pedir somente uma, seria ser mineiro novamente, nascer em Belo Horizonte, me chamar André Aquino Brito, só pra ter a chance de tentar conhecer cada pessoa que passou por aí e poder viver tudo de novo.

E você, coisa feia da capa preta com esse facão estranho, quando cismar de me visitar e que isso demore bastante, venha quando eu estiver bem cansado. Sou muito hiperativo pra ir-me dormindo e saiba que te darei trabalho. Então venha quando eu estiver correndo, subindo, brincando. Porque não quero ir morrendo, quero ir... Vivendo...

terça-feira, 6 de março de 2012

Para o dia das mulheres (baseado em fatos reais)



Ela já estava na sua melhor idade, com 7 filhos, 18 netos, filha única.

Não tinha dinheiro, não falava nenhuma outra língua além do português, mas queria por que queria morar em Nova York, pra ela uma cidade como outra qualquer, uma Belo Horizonte que cansa mais as pernas.

Argumentos a favor? praticamente nenhum, apenas o faça o que você tem vontade. Contra? Você não fala inglês, você está velha, você não tem dinheiro, você não conhece quase ninguém por lá e vai ter que passar por um frio danado.

Ela não escutou nenhum, Maria Zely como na música do Milton tinha um dom, uma certa magia, força de alertar, mulher que merece viver e amar como outra qualquer do planeta.

Com o visto e um punhado de dólares na mão ela foi a caminho do aeroporto. Passagens compradas pra embarcar num teco-teco prateado da American AirLines. Despedida e choro.

Quando se via o embarque, dava pra perceber tudo aquilo que só uma mulher de fato poderia fazer. Criar uma família gigante, preocupar com todos e  ainda manter uma força de olhar pra frente e encarar o novo como quem acorda pro banho.

Sim, ela foi, sem entender um "a" do que era falado e sem dinheiro. Viveu durante três anos em terras estrangeiras. Como fez com a grana? Trabalhou, pra andar? comparava as palavras escritas nas placas com as do mapa, a conversa? Isso até hoje não se sabe.

Coisas que só uma mulher de verdade conseguiria, voltou assumidamente por saudade, não por falta de força ou medo. Saudade, amava muito mais tudo o que estava aqui.

Maria Zely viveu Nova York e vive Belo Horizonte. VIVE!

A essa força e mania de ter fé na vida que só conheço em mulheres. Parabéns! Parabéns as todas que passaram, estão e aparecerão por aí pelo meu caminho. Através da história de Maria Zely, Parabéns a todas!

(*Maria Zely é minha avó e me fez desde pequeno ter um carinho supremo por mulheres de fato, que não se escondem por medo e que vivem pra viver).

segunda-feira, 5 de março de 2012

Sai pra lá da minha cerveja



Você caminha pela orla, o mar barulha de um lado, a brisa sopra no rosto e um sol com o calor dos últimos círculos do inferno de Dante bate à cabeça. Você que não pensa na hidratação, esquece as águas de cocô e vive a procura de algo gelado, amarelo e espumoso na borda. Carrega a cerveja que gela a garganta misturada com a brisa que tenta refrescar as narinas.

Fim de expediente, gravata afrouxada, engarramento em elevadores e um suor que começa a se acumular embaixo do braço logo após a saída das salas com ar-condicionado. Depois de oito, dez horas enfurnado sem conseguir ver seu céu cinza, tudo que você procura é um lugar aberto, a calçada que seja e algo bom e gelado na mão.

Isso pode estar com os dias contados. Um projeto apresentado em Recife, outro em São Paulo pretende o fim do consumo de bebidas alcoólicas em lugares públicos. Se você não conseguiu um carnaval com chuva, suor e cerveja, talvez só consiga um escutando a canção de Caetano ou só tenha chuva e suor.

Como bom mineiro, acostumado a sentar nos paralelepípedos e calçadas, a fazer caminhadas com uma lata de cerveja, a se reunir em volta de uma árvore, abraçar esquinas com a mesma desculpa de encontrar amigos e "tomar uma", já me sinto ressabiado.

Que a caretice paulistana não venha até Belo Horizonte, proibir o consumo de bebidas alcoólicas em lugares públicos (praças, esquinas, quinas e ruas)  na capital mineira seria o mesmo que proibir uma baiana de lavar as escadarias do senhor do Bonfim, de proibir o açaí no ver-o-peso de Belém ou um gaúcho de colocar seu espeto de carne fincado na terra.

Por lá pode ser lei, aqui é patrimônio cultural imaterial  e intocado. Sai pra lá!