quinta-feira, 19 de julho de 2012

Cuidado com o pedido de uma senhora



Há algum tempo, nas redondezas do dia natalino. Fui fazer aquele tipico passeio (ou tortura afetuosa) de compras de fim de ano com minha avó (sim, aquela que resolveu morar um tempo em Nova York e regressou).

Depois de tanto bate e perna e sacolas pra poucos braços, resolvi fazer pelo menos um pedido naquela tarde (afinal eu merecia, já estava ha quase três horas num para e avança de vitrines).

- Vó, só um cappuccino, podemos?
- Ah, eu quero um também meu filho.

A cafeteria estava meio cheia, demora pelo atendimento, mas em clima de fim de ano (para o bem e para o mal), praticamente ninguém importava com aquilo, praticamente.

Depois de algum tempo somos atendidos por um rapaz, assim, bastante desfalcado de seus cabelos (quando  digo bastante, era porque não havia fio algum naquela cabeça branca, brilhando como as bolinhas de natal para enfeite).

- O que desejam?
- Dois Cappuccinos

Algum tempo depois, ele retorna, sorridente com a missão cumprida.

- Aqui está, seu cappuccino  e o café para a senhora. (se ele fosse esperto, teria errado o meu pedido).

Minha avó não havia escutado, mas quando botou seus dois olhos de ver mundo naquele líquido preto, não hesitou.

- Ó! Ou! você! Aqui, seu CABEÇA DE PICA! Você mesmo!
- Vó, que isso!
- Que isso o que! Eu quero é Cappuccino! Café eu faço em casa!

*Sim, o cabeça de pica trouxe o cappuccino dela

terça-feira, 10 de julho de 2012

A falta de sensibilidade do Estádio Independência



Ansiedade e até desespero. Todos aqueles que gostam de futebol contavam os dias para receber novamente seus clubes em Belo Horizonte. Tudo isso dentro de um estádio moderno, que por fora lembrava as mais novas construções do século XXI.

Por dentro, ah... por dentro. Os problemas de visibilidade, bilheterias, entradas, saídas e todas as outras já relatadas por imprensa e por torcedores que pisaram no novo estádio do Horto, já foram ditas. Mas alguém pensou no cordão umbilical ou quando o projeto estava na placenta?

Alguns oriundos das áreas exatas, às vezes, quase sempre aos berros perguntam o porque de estarem sentados dentro de uma sala de aula com professores de Antropologia, Sociologia ou Filosofia. Já que estão ali esperando os cálculos da HP, os traços do concreto ou os balanços e relatórios do fim do mês.

A prova está aí, o novo e moderno estádio Raimundo Sampaio. Se a equipe de engenheiros, arquitetos e sei lá mais o que, tivessem assistido alguma das aulas citadas acima, boa parte dos problemas apresentados não teriam aparecido.

Porque eles saberiam que seu povo, de origem latina/negra/indígena, é emotiva ao extremo e que um estádio de futebol faz suas emoções irem ao ápice. Saberiam que pelo tamanho da agonia, quase ninguém consegue se sentar, tamanho o nervosismo apresentado. Se você, em um show, dentro de um teatro fechado, já ensaia se levantar nos primeiros acordes mais acelerados (ou nunca fez isto?). Imaginem uma partida de futebol.

Recordariam (ou pesquisariam) que o antigo estádio da Pampulha tinha degraus enormes (alguém se recorda da aventura dos passos largos para descer as arquibancadas do Mineirão) justamente para que, se todos ficassem em pé, um não atrapalhasse a visão do outro.

Mas não, o Independência resolveu jogar no lixo o costume do seu povo e pensaram de fato, que todos que fossem ao estádio, estariam devidamente sentados como em uma ópera (e isso em todos os setores). Apostando nisso, até a área de deficientes físicos fica no nível dos demais assentos. Assim como uma fila após fila das arquibancadas, quase todas no mesmo patamar, quase ninguém vendo nada.

Ah, aquele tropeiro no intervalo do jogo, tão típico do povo mineiro? As cozinhas não são aptas para manipulação de alimentos, não há gás canalizado e etc. As novidades aderidas por todos, não, não. Internet e celulares não funcionam.

Será que foi uma empresa norueguesa que realizou todo o projeto do novo estádio? Acho que não, provavelmente eles teriam estudado os costumes daqui.

Mas você não sabe como é um planejamento de engenharia civil ou coisa do tipo. Realmente não sei, sou só o civil que passa raiva com a falta de estudos com um projeto desse tamanho...

(P.S: Amanhã vence o prazo de 30 dias para que Ministério Público Estadual, Crea-MG e Corpo de Bombeiros deem seus pareceres sobre três opções apresentadas para solução da visibilidade, se o problema fosse só esse...)

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Encontrando alguns irmãos



Há exatos nove anos, estava a caminho da Rua Alvares Maciel com destino ao Lapa. Primeiro sentado em um bar de esquina junto a avenida Brasil, já que a movimentação era tranquila, afinal a casa tinha limite para 1.500 ou 1.700 pessoas, não recordo.

Naquela noite, após uma semana de lançamento do álbum "Ventura", eu entrava para o primeiro de cinco shows do Los Hermanos. Euforia, todos cantavam tudo. Surpresa inclusive para Marcelo Camelo que precisou de uma pausa após "O vencedor" para tentar entender o que estava acontecendo.

2012. A primeira impressão era de preguiça. Meninas na pré para a adolescência se ajeitavam na fila para o Chevrolet Hall às 16h (três horas antes da abertura dos portões), enquanto eu ainda procurava por um boteco aberto. Entro próximo do horário, tranquilo como ha nove anos atrás. A primeira música, como ha nove anos atrás...

Não era a mesma emoção de ver seu time campeão pela primeira vez, mas era a emoção de ver seu time campeão. O tempo passou, o público diversificou (que ótimo isso) e sem parâmetros para o número de pessoas alcançadas, lembrava do primeiro acorde lá em 2003, alguns amigos com menos cabelos, com mais peso e outros que já não estão mais aqui.

Feliz por reviver tudo isso, o coro era o mesmo (tá certo com umas 10.000 vozes a mais), os abraços em Conversa de botas batidas eram os mesmos. Os choros, beijos, afagos em Sentimental sempre presentes, o chilique dos pés se debatendo em azedume, o meio rebolado em Iaiá. A descida do palco (em 2003 Marcelo Camelo desceu ao público para ajudar uma menina que havia desmaiado, em 2012 foi a vez do Amarante, mas sem precisar colocar ninguém nos braços) também.

Uma música nova deixa a pergunta. Um álbum novo? Olha lá...


terça-feira, 1 de maio de 2012

O primeiro de maio que não deveria existir



Primeiro de maio de mil novecentos e noventa e quatro, domingo. Acordo cedo, como acostumado nos últimos três anos. Eu tinha só oito marços na vida. Meu pai não estava em casa, minha mãe fazia café e meu irmão dormia.

Estava na sala, esperando a terceira corrida de Formula 1 daquele ano. Senna era pole, como de costume, num ano não muito costumeiro, as duas primeiras etapas Senna não havia completado. O inicio da prova até a curva tamborelo todos lembram. Ligo pro meu pai que no dia trabalhava, não me dá muita atenção (ou não queria acreditar no que eu contava?).

Segunda-feira, aula suspensa, luto.

Quando tinha oito anos não queria ser um herói japonês ou de quadrinhos, queria ser o Senna. Rápido como Senna, empunhar a bandeira como Senna, levantar o troféu com o corpo todo em câimbras, como Senna. Todo mundo da minha geração queria ser um pouco Senna, meu pai queria, meu avó queria, talvez o mundo quisesse.

 O 1º de maio de 1994. Dezoito anos. Ainda acordo todo domingo, ligo a TV, minha mãe faz o café, meu irmão dorme, meu pai quase sempre está e como naquela vez eu peço sempre, que aquele carro com capacete amarelo não pare, que simplesmente, NÃO PARE!

quarta-feira, 25 de abril de 2012

O dia que cantei Hurricane




Expectativas no chão. Além de desconstruir todas as músicas, a voz fanha agora é rouca e idosa. "Você não entenderá nem o good night, isto se, acontecer um good night". Ficou na cabeça, vamos lá para descobrir o homem e ver o que acontece.

Assim entrei para assistir e tentar escutar Bob Dylan em Belo Horizonte, a loteria para acertar as canções, a vibração de reconhecer o que era tocado e emoção de verdade por cantar "Like Rolling Stone" (sim, sabida a canção desde os primeiros acordes).


Mas nada se compara a "Hurricane", Letícia Fiuza que estava ao meu lado dizia desde às 21h00 (inicio do show), "eu quero ouvir Hurricane", tentava desencorajar, "ele não toca isso deve ter uns trinta anos". 


Mas sem mais, perto do fim, escuto "Pistol shots ring out in the ballroom night, Enter Patty Valentine from the upper hall. She sees the bartender in a pool of blood, Cries out, "My God, they've killed them all!" 


Penso, "Será", Letícia, Guilherme Guigo, Davi Bretas e mais quem estava envolta se olham, Fernando não entende. Gaitas, "Yes, here's the story of the Hurricane, The man the authorities came to blame". Sim, mais gente havia escutado aquilo.


Abraços, sorte, cantos. Bob Dylan o chato de galocha mor tocava o que a menina esperava e ninguém, nem no maior sonho poderia esperar. Comentários no fim, "Ele tocou Hurricane", BH é só amor. Mas não.


No outro dia recebo um email com o repertório. Cadê Hurricane? Não, não havia, o inconsciente coletivo colocou meia duzia de pessoas pra cantar, mas Hurricane de fato, onde? Seria possível?


Ato falho de uns gatos pingados. 


Ah, a música que a gente confundiu com Hurricane?, não faço a menor ideia.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Quem apaga a luz?

 


Um genocídio na sexta-feira, a morte de mais de 200 personagens, que felizmente não serão levados pelas cinzas. Provavelmente o maior humorista do Brasil disse seu adeus, Chico Anysio foi assim, pra sempre em Maranguape.

Hoje, a quarta-feira se nublou novamente. Aquele que provavelmente poderia escrever sobre o genocídio de sexta, pois tanto cutucou sobre as várias mortes que por aqui passaram durante as décadas de sessenta e setenta, também resolveu fazer as malas e ir-se.

Fernandes que deveria conter um "Milton" como composição de nome virou "Millôr". Melhor, Milton Fernandes há aos tantos nas listas telefônicas, Millôr não.

O último apague a luz. Já sabemos que não será Chico, nem Millôr. É... Esse apagar de luzes não tem graça nenhuma!

terça-feira, 27 de março de 2012

Terça-feira de Carnaval

Foto: Bruno Senna
Corpo: Paloma Parentoni


Se corre pro muro ou precipicio
Se perde o barco a vela, o avião
Contando a história do meio pro inicio
Segura o corpo todo ou pela mão

O bloco que sai inteiro pela rua
O tambor no compasso do coração
O suor que na pele fica, gruda
Gruda os pés todos pelo chão

Depois o corpo vai se penteando
Antes da quarta-feira chegar
O que você me pede caminhando
A gente faz quando parar

Antes da terça não há promessa
Depois dela não há perdão
Tudo que a gente não confessa
Fica no talvez, sem sim ou não

Entrar e pegar o compasso de novo
O que há nela, há em mim
Há em mim e em todo o povo
Só um desejo longe de fim

domingo, 25 de março de 2012

A maneira mais rápida de se chegar a Itália



Siga pela Av.Antônio Carlos, vire a direita quando sentir cheiros conhecidos mas ainda não identificados. O caminho pode ser outro também, saia da Universidade Federal e atravesse a rua.

A casa está ali, muros vermelhos, portão branco e cinco campainhas (na verdade só uma funciona, então bata em todas até achar aquela que faz barulho). Siga uma rampa abaixo, suba a escadaria, passe pela porta de correr e pronto. Bem-vindo a Itália.

Em um canto, a massa apanha, é esticada, aberta e escondido o molho aquece. Tudo feito na hora e estritamente caseiro. O cardápio é escolhido um dia antes. A nossa espera no "Leccati i Baffi" estavam as entradas, pratos principais e sobremesa.

Zucchine Fritte (Abobrinha frita) e Bruschetta abrem o apetite, enquanto o Tagliatelle al Ragú Bolognese e Tagliatelle alla Vegetariana (macarrão com gorgonzola e nozes) aguardavam a vez de tomar seu lugar . Sim, todos se surpreendem, comida italiana caseira e barata.

Já sem esperar muito mais, surge em nossa frente um Tiramisù (bolo de queijo mascarpone, ovo, bolachas e café) e cremes de morango e chocolate. Havia a sobremesa, ah, a sobremesa. Vinhos chilenos acompanham a noite.

Esse achado está em uma casa na rua Aureliano Lessa, 217, próximo a Federal. Se você não pode pegar um avião até a Itália, vá caminhando. O "Leccati i Baffi" te espera. É de lamber os bigodes, ou melhor é de lamber os beiços.

Facebook - Leccati i Baffi

quinta-feira, 15 de março de 2012

Vinte e seis, uma semana antes do outono



São as águas de março fechando o verão ou trazendo o outono. Uma semana antes da mudança de estações, minha mãe resolveu que era momento de me expelir e me fazer chorar no mundo aqui fora. E já se vão 26 anos do primeiro choramingo.

Se há muito tempo pela frente não sei. Mas já dá pra agradecer algumas coisas, confessar que ando tentando viver.

- São quatro regiões brasileiras pisadas
- Sete países percorridos (percorridos de fato)
- Um trem pra praia outro trem pro nada.
- Dois oceanos
- Algumas ilhas
- Abaixo d´agua (tá certo bem pouquinho), e cinco mil metros pra cima
- Dois desertos, um de sal, um totalmente seco
- Uma final de libertadores vencida, outra não
- Um Rolling Stone, um Beatle, um Manu Chao e um Dylan por vir
- Dormir em lençóis com milhares de linhas, dormir em cama sem colchão
- Noites bem dormidas, não dormidas e não dormidas por opção.
+ 40ºC, - 10ºC
- Encontrar Fernando Sabino vivo e Neruda, mesmo que morto
- Cinco copas do mundo, duas vencidas
- Três temporadas com Senna
- Estudar no Instituto de Educação
- Brigar com meu pai, abraçar meu pai
- Preocupar minha mãe, abraçar minha mãe
- Preocupar-me com meu irmão, abraçar meu irmão
- Apaixonar, desapaixonar, reapaixonar
- Apertar a mão de 36 terras estrangeiras
- Conhecer todos vocês e um sem número de coisas que não vou conseguir listar (que bom isso) então eu paro aqui.

E sim, tem muita coisa que quero, que preciso por necessidade ou que quero só por orgulho. Mas se der pra pedir somente uma, seria ser mineiro novamente, nascer em Belo Horizonte, me chamar André Aquino Brito, só pra ter a chance de tentar conhecer cada pessoa que passou por aí e poder viver tudo de novo.

E você, coisa feia da capa preta com esse facão estranho, quando cismar de me visitar e que isso demore bastante, venha quando eu estiver bem cansado. Sou muito hiperativo pra ir-me dormindo e saiba que te darei trabalho. Então venha quando eu estiver correndo, subindo, brincando. Porque não quero ir morrendo, quero ir... Vivendo...

terça-feira, 6 de março de 2012

Para o dia das mulheres (baseado em fatos reais)



Ela já estava na sua melhor idade, com 7 filhos, 18 netos, filha única.

Não tinha dinheiro, não falava nenhuma outra língua além do português, mas queria por que queria morar em Nova York, pra ela uma cidade como outra qualquer, uma Belo Horizonte que cansa mais as pernas.

Argumentos a favor? praticamente nenhum, apenas o faça o que você tem vontade. Contra? Você não fala inglês, você está velha, você não tem dinheiro, você não conhece quase ninguém por lá e vai ter que passar por um frio danado.

Ela não escutou nenhum, Maria Zely como na música do Milton tinha um dom, uma certa magia, força de alertar, mulher que merece viver e amar como outra qualquer do planeta.

Com o visto e um punhado de dólares na mão ela foi a caminho do aeroporto. Passagens compradas pra embarcar num teco-teco prateado da American AirLines. Despedida e choro.

Quando se via o embarque, dava pra perceber tudo aquilo que só uma mulher de fato poderia fazer. Criar uma família gigante, preocupar com todos e  ainda manter uma força de olhar pra frente e encarar o novo como quem acorda pro banho.

Sim, ela foi, sem entender um "a" do que era falado e sem dinheiro. Viveu durante três anos em terras estrangeiras. Como fez com a grana? Trabalhou, pra andar? comparava as palavras escritas nas placas com as do mapa, a conversa? Isso até hoje não se sabe.

Coisas que só uma mulher de verdade conseguiria, voltou assumidamente por saudade, não por falta de força ou medo. Saudade, amava muito mais tudo o que estava aqui.

Maria Zely viveu Nova York e vive Belo Horizonte. VIVE!

A essa força e mania de ter fé na vida que só conheço em mulheres. Parabéns! Parabéns as todas que passaram, estão e aparecerão por aí pelo meu caminho. Através da história de Maria Zely, Parabéns a todas!

(*Maria Zely é minha avó e me fez desde pequeno ter um carinho supremo por mulheres de fato, que não se escondem por medo e que vivem pra viver).

segunda-feira, 5 de março de 2012

Sai pra lá da minha cerveja



Você caminha pela orla, o mar barulha de um lado, a brisa sopra no rosto e um sol com o calor dos últimos círculos do inferno de Dante bate à cabeça. Você que não pensa na hidratação, esquece as águas de cocô e vive a procura de algo gelado, amarelo e espumoso na borda. Carrega a cerveja que gela a garganta misturada com a brisa que tenta refrescar as narinas.

Fim de expediente, gravata afrouxada, engarramento em elevadores e um suor que começa a se acumular embaixo do braço logo após a saída das salas com ar-condicionado. Depois de oito, dez horas enfurnado sem conseguir ver seu céu cinza, tudo que você procura é um lugar aberto, a calçada que seja e algo bom e gelado na mão.

Isso pode estar com os dias contados. Um projeto apresentado em Recife, outro em São Paulo pretende o fim do consumo de bebidas alcoólicas em lugares públicos. Se você não conseguiu um carnaval com chuva, suor e cerveja, talvez só consiga um escutando a canção de Caetano ou só tenha chuva e suor.

Como bom mineiro, acostumado a sentar nos paralelepípedos e calçadas, a fazer caminhadas com uma lata de cerveja, a se reunir em volta de uma árvore, abraçar esquinas com a mesma desculpa de encontrar amigos e "tomar uma", já me sinto ressabiado.

Que a caretice paulistana não venha até Belo Horizonte, proibir o consumo de bebidas alcoólicas em lugares públicos (praças, esquinas, quinas e ruas)  na capital mineira seria o mesmo que proibir uma baiana de lavar as escadarias do senhor do Bonfim, de proibir o açaí no ver-o-peso de Belém ou um gaúcho de colocar seu espeto de carne fincado na terra.

Por lá pode ser lei, aqui é patrimônio cultural imaterial  e intocado. Sai pra lá!

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Nunca se bebe sozinho



Seis da tarde, o sol ainda batia sem nenhuma vontade de ir embora. Não, ele não esquentava. A casa não possuía energia elétrica, o vilarejo onde se encontrava estava distante 150km de alguma coisa, fosse pro leste, oeste, sul ou norte. Não estava perto de nada. A varanda era fechada e o vento que gritava no quintal não era convidativo a caminhadas ou a qualquer coisa que precisasse se mexer.

A adrenalina de lagoas a três mil metros de altitude e de beirar vulcões ainda permanecia. Três homens na mesa, olhando cada um para suas mãos, como se pensassem, o que fazer nesse raio de lugar. O resto do grupo já havia dissipado e tentavam de alguma maneira agarrar um fio de sono que fosse.

De repente, uma imagem milagrosa, em frente a casa existia mais um cômodo, servindo de venda (como se alguém ali além deles precisasse comprar alguma coisa). Estava quente mais existia cerveja para socialização no lugar. O único problema era aguentar uma caminhada de meio minuto a graus negativos.

Cada qual ainda olhava as mãos, mas agora devido a cerveja. Um brasileiro, um boliviano e um argentino. Quase que inconscientemente, os três repetem o mesmo gesto e derramam um gole do copo no chão. "A Pachamama", diz o boliviano, "para los que ya fuerón" o argentinos e ao santo, fala o brasileiro.

Os três se olham e um solta, "é, a gente nunca bebe sozinho".

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Ai a modernidade...



- Que isso aqui pai?

- Uai, meu celular novo. Ó, tira foto, tem esse tal de "tooh", toca música, tem rádio, filma.

- Mas isso nem vende mais.

- Que isso! Deram pra mim no trabalho e faz tudo que o seu faz (e aquela cara de toma papudo).

- E o que você já fez com toda essa modernidade?

- Por enquanto só sei destravar o teclado.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

A gente se vê

 Sempre falta "alguéns" nessas fotos

A gente se viu pequeno
A gente se viu grande

A gente se viu na rua
A gente se viu em casa


A gente se viu igual
A gente se viu diferente
A gente se viu solteiro
A gente se viu casado


A gente se viu na platéia
A gente se viu no palco

A gente se viu com medo
A gente se viu encorajado

A gente se viu junto
A gente esqueceu de se ver só

A gente se viu mal
A gente se viu bem
A gente se viu em festa
A gente se viu no hospital

A gente se viu na rua
A gente se viu em casa
A gente se viu em outro país
A gente se viu em outro estado

A gente se esqueceu de não se ver

A gente se viu na praia
A gente se viu no mato
A gente se viu na estação
A gente se viu no trem

A gente se viu no rádio
A gente se viu na televisão


A gente se viu padrinho
A gente se viu afilhado


A gente se viu são, A gente se viu muito são

A gente se viu bêbado, A gente deve ter se visto muito bêbado

A gente se viu filho
A gente se verá pai
A gente se viu novo
A gente se verá velho

A gente se viu vivo
A gente se verá morto

A gente se vê.

Quer ver uma forma maior de amor?
Veja amizada

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Trigésimo oitavo dia do ano



Estamos em fevereiro de 2012. Um mês e uma semana de ano. Próximo a virada escutava alguns dizendo. "E falta uma hora para o inicio do fim do mundo, falta um minuto..."

Tá certo, apenas uma profecia e coisas do tipo, mas em trinta e oito dias dá no minimo pra se assustar, até agora no que eu me lembro, Brasil e mundo afora, a gente pode listar que em um mês:

- Prédios caíram no Rio de Janeiro
- E outro cai em São Bernardo do Campo
- Pelo menos 74 mortos em uma partida de futebol no Egito
- O caso Pinheirinho no Estado de São Paulo
- Quase 400 mortos por frio na Europa
- Um dos maiores períodos chuvosos de Belo Horizonte
- Chuva no deserto do Atacama, o mais seco do mundo
- Bebê que nasce com 7 quilos na China
- Um jovem apanha de outros quatro por tentar defender alguém
- Tentativa de censura a uma marchinha de carnaval em Belo Horizonte
- Uma volta do Canadá vira noticia
- Mais um Big Brother, e esse com suspeita de estupro

Outras coisas mais que você pode ajudar a enumerar

- E o Cruzeiro estréia com derrota no campeonato mineiro para o Guarani de Divinópolis

Isso em um mês. E aí profecia maia?

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Você é do tamanho do mundo



Inquieto. Lembram quando no filme "Comer, rezar e amar" a protagonista tenta buscar sua palavra? Pois é, essa é a minha, inquieto, no sentido de menino pequeno mesmo. Preciso andar, preciso pegar, preciso ver e preciso pisar por mim mesmo.

Agora me falta apenas os países ao extremo norte da América do Sul. Miúdo sim, o mundo é gigantesco e a gente realmente é do tamanha de um isqueiro Bic de R$ 3,50 diante de tudo. Muita coisa, muita história que infelizmente não será possível em uma vida.

Mas há algo incrível quando você resolve colocar o pé na estrada (digo de fato). As pessoas de bem estão espalhadas por aí, então você também precisa se espalhar. Sair, tentar, se permitir, chutar o não posso, chutar o "não" pra longe. "Sim" é o som mais bonito e isso em qualquer língua, vá atrás das pessoas que dizem sim...

Talvez não se note de primeira. Mas através dos "sins" e das rotas você cresce. Você passar a fazer parte da história de pessoas de toda parte, por um momento você é caso de gente de todo lugar.

Você começa a ficar do tamanho do mundo e você pode ser do tamanho do mundo.

Volto a Belo Horizonte com mais de sete mil quilômetros de altura. Confesso que estou vivendo. Obrigado a vida, que tem me dado tanto e obrigado a todos que estão por aí e que permitem a você crescer de fato.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

As casas de Neruda


21h. O sol ainda bate em Santiago, bate em Valparaíso e bate em Isla Negra. Parte alta do bairro BellaVista, abaixo do Cerro Santa Lucia, rua sem saída, paredes azuis. 

Um quadro de Rivera, uma foto com Jorge Amado, outra com Luis Carlos Prestes, um bar em cada piso, uma medalha de um prêmio Nobel. Sim, estava dentro da primeiro casa de Neruda, algumas coisas faltantes. Agressão militar a primeira residência.

Ladeira, muitas ladeiras, elevadores, vista estranha, no meio do Cerro, perto do topo, perto do reto, repouso, casa de descanso, um barco perdido num morro verde.

Pacífico, pedras, água fria, muitos sinos, como todas, um barco, este sim, perto do mar. Tudo dele aí, a casa de vida, de permanência. O quarto, a mesa de trabalho, as coleções. Uma invasão, estava dentro do seu banheiro, sentado na sua cama, colocando a mão na madeira onde repousa a primeira versão de Confesso que vivi. 

Na parte externa, vigiando as ondas, o encontro de fato. "Compañeros, enterradme en Isla Negra, frente al mar que conozco, a cada área rugosa de piedras y de olas que mis ojos perdidos, no volverán a ver"

Por um segundo reunidos de fato. Neruda vigiava as ondas e eu o seu descanso.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Clandestinos no Deserto

Organizaçao.

É a palavra ao sair da Bolivia e entrar no Chile (tá certo que a falta de planejamento é a graça total do primeiro paìs), onibus com lugares e horarios. Em pouco tempo nariz ressecado, garganta seca, já é o resultado da aproximaçao com o deserto mais árido do mundo, o Atacama. Se Pumamarca é a Sao Tomé da Argentina, o mesmo pode se dizer de San Pedro de Atacama no Chile.

Sim aqui é muito caro, um dolar para um sabonete, dois dolares e meio para uma garrafa de agua (realmente agua vale ouro no deserto), a cidade chilena mais cara por sinal. E uma curiosidade, alcool só pode ser vendido até a meia noite, resultado disso? As festas clandestinas.

Você compra a sua antes desse horário e de repente começa, "será en la playa" "és en las flores" (locais no deserto do atacama onde todos se reunem), sim, festas clandestinas em pleno deserto, o mais seco do mundo, molhado de cerveja e vinho durante horas...

"Cuidado los pacos, estan cerca los carabineros", sim se esconde da policia, como imigrantes ilegais correndo no deserto, mas no fim tudo dá certo, num frio de 5 graus...

Uma coisa que todos devem saber, mas o céu desperta màgico por aqui, nada como um deserto pra molhar de areia, suor e um pouco de vinho nossas vidas..

Já estamos em Santiago.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Um Bituca no Uyuni (ate que fim a trilha deixar de ser "Ai se eu te pego")

Vento, lama, chuva. Essa foi a recepcao em  Tupiza, ultima parada para o Deserto de sal do Uyuni. Oito horas em uma estrada que nao existe, num lugar que nao esta no mapa.

O mesmo vento da as boas vindas em Uyuni. Nao ha como escrever alguma coisa sobre os tres dias de travessia ate o Chile, acredito que as fotos tambem nao consigam explicar. Mas um caso, sim, vale contar.

Nosso grupo estava formado por dois noruegueses e um canadense. Na segunda noite de sono (num povoado que nao faco a menor ideia do nome, mas proximo da Laguna Colorada), em conversa sobre o Brasil, musica, politica e futebol, o assunto chega a Minas e Belo Horizonte. A norueguesa saca seu ipod e me solta um "I like very much this songs". O artista? Milton Nascimento from Santa Tereza, a cancao? San Vicente.

Sim, uma Norueguesa salvou nossos timpanos, depois de ter como trilha desde Assuncao, a musica mais popular depois de Macarena, "Fugidinha com voce"

No meio de um deserto de Sal, o som que se escuta entre as paredes de blocos de barro: San Vicente...

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Seis horas na Fronteira, La Quiaca e quase um resta um

La Quiaca, o Oiapoque da Argentina. Quatro Horas para sair, duas para ingressar a Bolivia, 3100 metros. Sim, estamos na Bolivia e programacoes e horarios esqueca.

Nossa situacao, ir para Tupiza (nao me pergunte aonde fica) e arriscar um onibus para o Uyuni. Detalhe, para este onibus quase perdemos Fernando para sempre!

- So vou ali no baño, um segundo
- Fernando, o onibus vai sair, Fernandom Fernandoooooooooo

Dois segundos depois.

- Pare, pare hay una persona en terminal, tenemos que volver.

- Si Chico

- Hey, hey, el terminal paso, hay un muchacho de Brasil, pare. Da-me un minuto me voy a buscarte.

- Nandinho, corre fi. So falta voce no onibus.

- Vei, achei que tinha ficado preso em Villazon.

- Vamo pra Tupiza

- Onde ?

Salta e o Senna dos Andes!

Fotos so a partir do Chile

Salta la linda, assim os argentinos chamam a cidade. Realmente Salta tem pelo menos uma das pracas mais bonitas que ja visitei (perdendo somente para a de Cuzco no Peru).

Um dos passeios mais tradicionais è aquele que percorre seus povoados pròximos, como Pumamarca (a Sao Tome das Letras da Argentina), chegando proximo dos 4.100 metros. A estrada atè là jà vem com as caracteristicas de Bolivia.

Para a travessia estava em nosso carro um verdadeiro Senna dos Andes, correndo entre precipicios, escapando de buracos e atoleiros atè nosso destino, digno de prëmio a pilotagem do garoto.

Foi aqui que encontramos o primeiro brasileiro, um cara que trabalha como atendente no mercado central de Salta, com um portugues pessimo e um espanhol em construcao, nao trouxe nada de novo ou alguma informacao que valesse a pena.

Salta fica pra tras, agora vamos em busca de La Quiaca, divisa com Bolivia.

Agora acaba a viagem e comeca a aventura!

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Assunçao arde



Como boa parte das pessoas sabem, no espanhol nao existem todos os acentos do português, portanto os teclados das bandas de cá, também nao.

Nuestra Señora de La Asunción. Capital do Paraguay. A primeira palavra sobre a cidade é: surpresa. A imagem mais constante do Paraguai sempre vem das compras, dos sacoleiros, do mercado a céu aberto de todos os produtos "hechos en Paraguay".

Porém, Assunçao é uma cidade organizada. O famoso comercio sacoleiro está restrito a uma àrea como o Shopping Oi em Belo Horizonte ou a 25 de março em Sao Paulo. A cidade parece um canteiro de obras, dizem que devido a construcao civil a taxa de empregos aumentou em 85%, depois da pose de Fernando Lugo, atual presidente.

Assunçao ARDE! 38 graus durante o dia e 27 a noite, sem ventos ou lugar para se esconder.

Mas saio de Assuncao com a vontade de retornar. A cidade me deixou marcas, marcas fisicas mesmo. Estou conhecendo minha primeira alergia, nao sei alergia do que ainda. A necessaire do Fernando, que mais lembra uma mochila tem me salvado, Polaramine para qualquer irritaçao de pele estava nela, ponto pra ele.

Já estamos em Salta, depois escrevo sobre nossas impressoes.

Hasta Luego