Você caminha pela orla, o mar barulha de um lado, a brisa sopra no rosto e um sol com o calor dos últimos círculos do inferno de Dante bate à cabeça. Você que não pensa na hidratação, esquece as águas de cocô e vive a procura de algo gelado, amarelo e espumoso na borda. Carrega a cerveja que gela a garganta misturada com a brisa que tenta refrescar as narinas.
Fim de expediente, gravata afrouxada, engarramento em elevadores e um suor que começa a se acumular embaixo do braço logo após a saída das salas com ar-condicionado. Depois de oito, dez horas enfurnado sem conseguir ver seu céu cinza, tudo que você procura é um lugar aberto, a calçada que seja e algo bom e gelado na mão.
Isso pode estar com os dias contados. Um projeto apresentado em Recife, outro em São Paulo pretende o fim do consumo de bebidas alcoólicas em lugares públicos. Se você não conseguiu um carnaval com chuva, suor e cerveja, talvez só consiga um escutando a canção de Caetano ou só tenha chuva e suor.
Como bom mineiro, acostumado a sentar nos paralelepípedos e calçadas, a fazer caminhadas com uma lata de cerveja, a se reunir em volta de uma árvore, abraçar esquinas com a mesma desculpa de encontrar amigos e "tomar uma", já me sinto ressabiado.
Que a caretice paulistana não venha até Belo Horizonte, proibir o consumo de bebidas alcoólicas em lugares públicos (praças, esquinas, quinas e ruas) na capital mineira seria o mesmo que proibir uma baiana de lavar as escadarias do senhor do Bonfim, de proibir o açaí no ver-o-peso de Belém ou um gaúcho de colocar seu espeto de carne fincado na terra.
Por lá pode ser lei, aqui é patrimônio cultural imaterial e intocado. Sai pra lá!
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